A anatomia de UM luto – existe um caminho a percorrer?

Comprei o livro para ter uma outra perspectiva do processo de luto, talvez encontrar semelhanças e até um caminho, e fiquei impressionada em como CS descreve esse sentimento e toda a espiral que é esse processo de maneira tão precisa, que eu mesma não encontrei as palavras por muitas vezes.

Me arrependi de não ter conseguido manter um diário, como ele, desses momentos.

A luta com Deus e todo o processo de aceitação da morte da pessoa amada, a sensação da porta fechada pela parte de Deus que na verdade é o meu coração duro para aceitar sua bondade e colo.

Não é um livro que faça sentido para quem não vive ou viveu o luto e ao mesmo tempo não se propõe a ter sentido, são só relatos de um viúvo de sua própria experiência com a morte, tentando encontrar sentido.

Apesar de que cada um, em cada perda, terá uma vivência diferente do luto, por isso o título é de UM luto e DO luto, alguns sentimentos são parecidos.

O medo, a sensação de torpor logo do início, a vontade de ficar quieto mas não sozinho e ao mesmo tempo a sensação de abandono, a vida de todos vai seguir e a sua não, ou pelo menos vai demorar, e quando menos se espera, o sentimento volta.

Tudo se torna desinteressante. Mas existe a obrigação de continuar. Era o que fulano desejaria, mas será que é ela mesma que deseja ou uma visão que tenho dela?

Existe uma preguiça, o detestar do menor esforço, cuidar de si. Tudo perde o sentido.

A incapacidade de lembrar do rosto da pessoa que mais viamos até então, por ter tantas camadas dessa fase armazenada na nossa memória que o cérebro encontra dificuldade em apresentar uma imagem, tornando tudo um borrão, mas a voz, a voz é clara. O cheiro some, a face disaparece da memória, mas a voz. A voz permanece.

“Que hipocrisia lamentável dizer: “Ela viverá para sempre em minha memória!” Viverá? Isso é exatamente o que ela não fará.” O viverá é uma imagem criada dela, algo das minhas expectativas, que acredito serem ela e não necessáriamente sua verdade, mas sem ela aqui para quebrar essa image criada, o que resta?

A luta do saber sobre a religião, sobre Deus, sua verdade, seus dogmas, suas disciplinas, mas duvidar do seu consolo, não servir de nada, parecer mentira, irreal. Acreditar que Deus é bom o tempo todo e que tudo que Ele faz é bom, perfeito e agradável.

O processo de cura também é estranho, é necessário, natural, mas ao mesmo tempo errado. Ás vezes se esquece do motivo, mas há sempre aquela sensação que algo está errado, quebrado, faltando.

Uma hora você está bem, feliz, e do nada volta tudo, aquela faca no peito, como se seu coração fosse arrancado outra vez, como se fosse agora e não 1 ano atrás.

É andar em círculos ou uma espiral? Estamos subindo ou descendo nessa espiral? Uma hora acaba?

Achei fantástica a comparação com uma amputação. Ou você sara ou morre. Se sara, a dor intensa e contínua cessará, se repera a força, é capaz de andar “normalmente” com sua perna de pau, se está recuperado, mas mesmo assim, ainda terá dias de dores fortes no coto durante toda a vida, sempre se será um “homem de uma perna só”. “Todo o seu jeito de viver será mudado. Todos os prazeres e as atividades que antes considerava naturais terão de ser simplesmente descartados” ou encontrar novos meios de se fazer, de se viver, de encontrar prazer.

Então encontra-se com Deus novamente, a porta se abre, vem a realização de que ao louvar o presenteador, apreciamos o presente uma vez mais, nos aproximamos do Pai e de certa forma de quem se perdeu.

Não encarando Cristo como uma estrada para se alcançar contato com quem se perdeu, mas como um fim, afinal, se se aproxima de Deus como um meio e não como uma meta, não está se aproximando dEle de verdade e nem de nada.

Não existe uma fórmula, um passo a passo para essa vivência, mas o meu caminho tem se assemelhado com o de CS Lewis.

Pode ser que um dia essa espiral tenha fim, possa ser que a viva até o fim dos meus dias, mas a certeza que a porta está aberta e que eu estou pronta para entrar novamente é acolhedora.

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